A família costuma ser o primeiro espaço dentro do qual nos desenvolvemos. É ali que construimos nossas primeiras referências e de como sobreviver e interagir no mundo. No entanto, em toda família podem surgir impasses e entraves que dificultam o desenvolvimento tanto dos membros individualmente como do sistema como um todo. Quando essas circunstâncias prejudicam o funcionamento da família ou resultam em sofrimento excessivo ou comportamentos mal-adaptativos, a terapia em família se torna uma excelente alternativa.

A terapia de família é voltada para o fortalecimento dos individuos e do sistema. Não se trata de uma busca de culpados. Ao contrário, externalizamos o problema – o problema é que é o problema – para então compreendermos conjuntamente a melhor forma de lidar com as atuais circunstâncias, promovendo no seu lugar esperança, coragem, resiliência e paz.

Independentemente de como certas dificuldades surgem, exploramos como o sistema familiar serve como espaço de revitalização, cura, soluções criativas, fortalecimento e crescimento para todos os membros.

No momento, posso dizer que meu trabalho com famílias passou por transformações assim como as próprias famílias. Comecei com as famílias, com crianças, e as crianças cresceram e viraram adolescentes e muitos desses adolescentes viraram jovens adultos, assim como vieram a se tornar pais também. Sendo assim, tenho a impressão que completei um ciclo junto com cada família que eu atendi. Hoje, tenho focado primordialmente nas famílias com adolescentes, jovens adultos, filhos adultos e pais idosos. Porém, de vez em quando, como parte de um processo de um casal ou mesmo a uma família, a criança ainda participa de sessões com seus pais ou irmãos, favorecendo a todos. A diferença é que quando há uma demanda específica centrada na criança, hoje junto com a família auxilio a buscar terapeutas que trabalharão em conjunto conosco.

Famílias em diferentes estágios de desenvolvimento, famílias com crianças, adolescentes ou jovens, pais e filhos, pais/mães/cuidadores que criam filhos sozinhos, famílias mistas (ex: pais casados novamente com filhos de relacionamentos anteriores), filhos adultos com pais idosos, pais separados que buscam mediação para co-parentar seus filhos, famílias de realidades diversas (orientação sexual, cultural e religiosa, classe, ciclo de vida, etc.).

Frequentemente sou procurada por pais buscando orientação em como lidar com situações vinculadas ao comportamento de seus filho(a)s. Nestes casos, trabalho em colaboração com os pais e ou cuidadores (que funcionam como co-terapeutas). Parto do princípio (apoiado pela pesquisa) que os pais auxiliando seus filhos no processo de superar barreiras e encontrar alternativas e soluções, alcançam resultados mais eficazes e mais rápidos. Nestas circunstâncias costumo trabalhar numa combinação entre sessões com a criança ou adolescente, da criança com os pais, assim como sessões com os pais somente.

Embora seja frequentemente procurada pelos adultos para a terapia individual, em muitos casos esta faixa etária pode se beneficiar da terapia familiar. Por exemplo, na depressão, ansiedade ou estresse o benefício de envolver a família se torna evidente. Um grupo que nos cerca e nos sustenta com amor tem um papel crucial não apenas em nosso desenvolvimento, mas também em momentos de desafio.

Na família, há a possibilidade de explorar recursos de múltiplos membros e fontes, fazer uso das qualidades criativas que cada família possui, a favor não só do indivíduo, mas do crescimento e mudança positiva do grupo como um todo, gerando assim uma melhoria de qualidade de vida para todos.

Há também uma demanda importante gerada por filhos com pais idosos. Frequentemente estas circunstâncias demandam uma grande mobilização de energia, tempo e cuidados. Nestes casos, as pessoas me procuram buscando recursos e estratégias práticas para lidar com o processo de envelhecimento e declínio natural de seus pais ou devido a questões de saúde mais graves.

Mesmo quando os idosos não se mostram abertos ou possibilitados de participar do processo, filhos adultos ou cuidadores podem elaborar a melhor forma de apoiá-los. O foco aqui é auxiliar tanto o idoso como os familiares a terem a melhor qualidade possível nestas circunstâncias.

Alguns momentos típicos em que famílias me procuram são os momentos de transição naturais dentro de uma família (como o nascimento de um novo bebê, a transição para a adolescência, a saída de casa de um jovem, a necessidade de dar maior assitência a um membro idoso), situações inesperados (ex. uma separação, uma enfermidade, a perda de um emprego), padrões de interação pouco saudáveis, desenvolvimento de estratégias práticas no processo educativo de filhos, elaboração de valores e projetos familiares em comum, etc.

No caso de crianças e adolescentes frequentemente sou procurada em função de comportamentos de oposicão, hiperatividade, enurese noturna (xixi na cama), birra, timidez e retração social, hipersensibilidade emocional ou dificuldade de regular as emoções, problemas na escola de ordem diversa, incluindo disciplina, de aprendizagem e relacional, além de outras como o bullying, abuso de substâncias (e outros comportamentos de risco), situações de trauma (envolvendo perdas), relacionamento e comunicação em família, alto-conflito familiar, questões de gênero (homosexualidade, transexualidade, etc.) e sexualidade como um todo, autoestima, distúrbios de imagem corporal e alimentação, além de outras circunstâncias envolvendo momentos de transição na família (mudança de cidade, emprego, separação, novos casamentos, famílias com novos membros, mudança de papéis devido a questões de saúde, etc.).

Atualmente, quando questões da família estão centradas nas crianças e existe uma demanda pelo atendimento infantil, faço indicação para outros terapeutas familiares e/ou infantis, embora a criança ocasionalmente possa participar de uma sessão dos pais e suas questões são consideradas no contexto das necessidades da família.

Já no caso do adolescente e do jovem adulto, sessões familiares são estruturados conforme as demandas de todas as partes, visando favorecer não apenas o melhor funcionamento familiar como relações afetivas seguras onde predomina sintonia e conexão entre as partes. Não importa as circunstâncias, o objetivo é fomentar relações de apego seguro onde cada um possa sentir visto, respeitado e ouvido, onde juntos possam buscar soluções que atendem as necessidades daquela família.

Em se tratando de pais idosos e filhos adultos ou cuidadores, sou procurada em função dos desafios ligados às relações interpessoais, declínio de saúde física e mentais do idoso, perdas e luto, além de aspectos vinculados a cuidados pessoais no cotidiano e qualidade de vida. Além disto, filhos também precisam encontrar um equilíbrio entre respeitar as necessidades dos pais ao mesmo tempo reconhecer os próprios limites, preservando sua própria integridade física e emocional sem dispensar uma conexão emocional valiosa.

No caso de terapia de família focada em adultos, os motivos mais comuns foram citados em Terapia individual e Terapia de casal. Para aqueles motivos, dependendo do caso, a terapia de família pode ser mais eficaz sozinha ou em conjunto com a terapia individual ou de casal.